Eu caí dentro de mim. Foi isso o que aconteceu. Não um mergulho, como quem decide se atirar. Mas uma queda. Uma descida. Um encontro mais abaixo. Uma descoberta de profundidade, e eu nem sabia que ela existia assim, tão perto, tão encontrável. Uma dimensão solitária. Não sei como chamá-la de espaço. Lugar? Me vem como um brotejamento, só que para dentro. Então minha pele arrepia e eu fico sabendo que a tristeza disfarçada de piadas diárias vem cobrar sua conta. Eu fico sabendo. O ar de tudo que não digo por medo de seu olhar distante, ou pior, de piedade e pena, corrói como gás invisível. Por que não abro as janelas e deixo tudo sair? Ou será que tudo retorna quando chego perto? Eu nunca pude ir para longe. O outro lado do mundo é só mais uma esquina. Mas eu preciso tanto falar para me ouvir dizendo! Eu fico repetindo e repetindo que vai passar, que é possível, mas a verdade é que eu morri. Eu morri. Foi de susto. Ficou uma tristeza fria me velando. Pode parecer que falo sozinho. Sim, falo. Me tornei médico de minha doença imaginada. O remédio é uma bruxaria. Uma foto, um almoço, uma música, uma frase. Uma catação de coisas. Nada. A temperatura não se altera. A febre escondida persiste. O alento vem de esquecer que se lembra. Hoje é um dia em que estou mais irreal que de costume. Graus de irrealidade. A que ponto cheguei! Um último riso antes do sono...
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