Oliver xinga e parte em direção ao valentão da escola e lhe quebra o nariz. Quase pulei da cadeira. Aplaudi. Depois ele ficam amigos, o que foi ótimo também. Mas aquele momento foi uma catarse que pontuou a história. Vincent o ensinara a ser eficiente. Afinal, um tapinha de nada resolve uma briga. A raiva precisa ser canalizada de baixo para cima como um fluxo no caminho de menor resistência. Eu venho de baixo e vou te arrebentar no topo de sua soberba! Agora permaneça no chão! Obrigado Vincent, você me ensinou a ser eficaz. É nas entranhas que concentro minha fúria e ela explode procurando o céu, arvorando, feito árvore, sempre mais velha que eu mesmo. Quais são as possibilidades de ganhar? Ganhar qualquer coisa, não importa o quê... Oitocentos para um? É esse que quero. Aposto tudo, tudo o que tenho. Dez ou dez mil, tanto faz. Pois não se trata nem do resultado. É uma postura de vida. A única aposta que vale a pena é a de maior risco! Você é o resultado de uma aposta que a vida faz. Pense: quais as chances? Você quebra e quebra novamente. O que te mantém em pé? Chamem de persistência, de teimosia, de superação, de sobrevivência, de resiliência... eu chamo de consciência: cola que unifica o esfacelado. Eu chamo de presença: essa alma que fala comigo durante a tempestade. Lembra o garoto que Oliver nocauteou? Agora ele lhe dá carona na bicicleta. Pois só queremos uma mão estendida. Alguém que fique ao lado. E isso porque adotamos e somos adotados. Porque bombas incendiárias caem no campo que você passava a tarde e o que resta é desolação e bravura. Porque você esquece de si mesmo, mas em surtos de memória você reconstrói magicamente o presente apara além do tempo memorável. Porque seu cérebro sangra, o álcool te anestesia, a fumaça te acalma, mas ainda assim você continua adotando e sendo adotado, cuidando e sendo cuidado. Só precisamos de alguém ao lado. Esse nunca é espectador apenas. É alguém que te empresta ar quando o seu acaba. Também é alguém que renova o seu quando ele te asfixia . Por isso não importa sua crença ou a falta dela. Fé sempre é confiança, apesar de deus ou da sua ausência. Confiar na aposta mais alta, nesse filho que não importa de quem seja, nesse velho cuidador que é tão triste. Havia aprendido que santo é sinônimo de saudável. Mas a vida não distingue santos e doentes. Doente e santos somos todos. Entenda: sempre que você chorar ao meu lado, irei segurar sua mão. Mas o significado é apenas este: o de um ato de vida. Nenhuma medalha será entregue, nem um título de santidade, a não ser o do filme, título que só vale entre nós dois. E nunca somos dois quando estamos juntos, por mais difícil que seja perceber as interseções nos círculos. Então Vincent na última cena do filme rega um vaso com uma planta ou pequena árvore ressecada. Ele a encharca. Depois rega o chão de areia seca como se brincasse com a mangueira d´água. Finalmente rega os próprios pés ainda com meias e chinelos. Ali, ainda na sala do cinema pensei que aquilo fosse uma livre interpretação do ator, um improviso. Então me vi sorrindo diante do óbvio. Você rega a árvore, ainda que seca, pois floresce. Você rega o chão, ainda que de terra, pois verdeja. Vincent, vencedor. Sim, você rega os próprios pés.
Nenhum comentário:
Postar um comentário